22 janeiro 2018

em cinco minutos

Por acaso, esbarrou-se numa avalanche de coisas. Ora eram bolas de cristal esfumado, ora eram ervas daninhas que insistiam em crescer. Caía de joelhos, agarrava-se ao chão com toda aquela força natural, compondo o cabelo num golpe militar de que não se sabia onde teria sido aprendido. Tropeçou numa cama de algodão doce sem saber. E só sabia que sentia a pele melada de tanto açúcar. Fechou os olhos para não ver, pensou em mil e um motivos para nem perceber que estava a cair, queda livre, desarticulada. Os pés, agora levantados do chão, estavam leves e só sentia a pancada na cabeça como se a vida lhe gritasse, após dias a fio a avisar, ACORDA! 
As lesões e as mazelas não estavam assim à vista desarmada, mas sentiam-se pelas costas abaixo, como se tivesse sido empurrada por um sem número de mãos indistintas, desconhecidas. Tudo lhe parecia desconhecido. E assim, caiu e bateu com a testa no meio do chão, aquela calçada portuguesa, preta e branca, cubos e cubos tortos, ali a contorcerem-se. Acertou com a testa e abriu um lanho. A cabeça ficou dorida e depois ficou vazia. Vazia. E depois ficou distante, longe dela mesma, num novelo de lã azul. 
Os braços deixaram de ter posição e descansou ali pousada, aterrada, estupefacta e feliz. 




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